Rodrigo Suzuki Cintra

O Espaço desses poemas

(se existem hipóteses geométricas devem existir geometrias hipotéticas)

 

Também é verdade que o homem invisível é um geômetra.

 

É preciso estar no palco, no centro equidistante das atenções, para efetivamente não ser notado. 

 

 Pois a invisibilidade não é realmente um atributo de objetos não visíveis. É apenas aquele espaço entre os olhares em que nada foi ainda redimensionado.

 

Digamos: para descobrir o ângulo exato em que duas retas não paralelas se encontram, às vezes, é preciso prolongá-las (se é que as retas paralelas não se encontram…). As retas são feitas de pontos. 

Entre dois pontos, sempre cabe mais um: é um infinito. 

 

Que maravilhosa imaginação aquela que prolonga as retas de um poema e descobre um ângulo preciso em outro poema. 

 

No espaço entre dois versos, ainda que não sucessivos, cabe sempre mais um. E uma rima pode fugir da estrofe e fazer um voo arqui-hipotético e vir parar do lado de fora da métrica.

 

Geometrias hipotéticas são uma estética do que poderia ser, do quase, do talvez por dentro do nunca. Não coordenam o mundo do real, mas bem podem ser a arquitetura das possibilidades. 

 

O cosmos é tudo que for o caso. 

 

Certa vez, andando pelas ruas da metrópole, naquela hora precisa em que tudo evapora, segredei aos ouvidos de um mendigo um pouco de meus abismos e amores.

 

Ele solucionou o problema com uma lenda, tradição mítica da noite, que começava assim: Era uma vez um homem invisível que vivia entre dois mundos – o do amor e o da morte. Por não se decidir ao certo a qual desses mundos pertencia, tinha uma mania crepuscular: só conseguia sonhar se estivesse acordado, só estava acordado quando estava sonhando…

 

Acendi um cigarro e perguntei para ele: Mas e daí?

Ele respondeu: Os homens invisíveis dormem de dia e acordam de noite. A noite é o abismo da escuridão e a luz da paixão. Mas, dizem os sábios, todo homem invisível morre e revive a mesma noite – todas as noites…

 

Perguntei se ele entendia de geometria.

 

Ele acendeu um cigarro, volteou nebulosas na minha cara, e me perguntou se eu

ainda 

ficava procurando por ela todas as noites.

 

Entre abismos e paixões, um homem invisível voltava mais uma vez para casa para calcular axiomas, criar retas improváveis, imaginar ângulos e procurar por aquele verso infinito sobre uma garota que ele jamais encontraria.