I
Dentro do pequeno quarto fechado à chave, um daqueles locais apropriados para relações mais íntimas, um homem e uma mulher fazem sexo de uma maneira absolutamente mecânica. O vai e vem da penetração é, nessa imagem, certamente vigoroso, obedece a um ritmo próprio, e tudo aponta para a conclusão de que eles não vão terminar de fazer o que estão efetivamente fazendo muito cedo.
O espectador da figura é certamente um enxerido. Pega, no flagra, o casal ao meio da relação sexual, mas, isso não traz maiores problemas, uma vez que, obviamente, este era o objetivo central da pintura.
Não dá para saber ao certo se o casal referido se ama. Essa questão, para falar a verdade, quase que não se propõe. Trata-se, aqui, de representar mais a ordem do sexo do que a do amor. O que está em jogo é o que poderíamos chamar de mecânica do sexo, ou seja, como ele opera, como entra em funcionamento e, também, como termina. E, nesse caso, apesar de haver uma movimentação evidente, há algo de profundamente repetitivo na imagem.
O homem é viril. Parece, muito bem, que sua ereção durará ainda por certo tempo. Além disso, está, sem dúvida, severamente concentrado. A imagem indica a lógica de um ritmo que ele parece estar a impor na relação. É, por assim dizer, sua forma própria de exercer a dominação.
Sexo é poder.
A mulher é bonita. Seu rosto é belo e seu corpo jovem está na medida das proporções das mulheres mais elegantes. É um corpo com curvas arriscadas, mas, perfeitamente bem traçadas. Seus glúteos, por exemplo, são de um redondo absoluto, um redondo de corpo esculpido, que leva sempre os homens a parar para olhá-la passar quando a encontram nas esquinas da vida. É, por assim dizer, sua forma própria de exercer a dominação.
O homem está completamente nu, enquanto a mulher está parcialmente vestida. Nitidamente, ela ainda está de saia verde, e, apesar disso, consegue realizar a relação sexual sem o menor problema.
Existe, obviamente, uma desproporção entre o tamanho do quarto e o do homem e a mulher. O casal, seja oficial, infiel ou mesmo que se trate de uma paixão de ocasião, de alguma maneira está em um momento pleno e, talvez por isso, ocupe visualmente quase que a totalidade da tela.
Uma curiosidade é que não dá para saber ao certo qual a posição sexual que estão a praticar. A imagem dá a impressão de uma lógica vertical, e, por isso, acabamos por entender que a posição sexual do casal também se dá neste sentido. Mas, devemos confessar que muitas outras alternativas também nos são dadas pela tela e podem ser perfeitamente possíveis. Basta um pouco de imaginação.
II
A máquina pode ser entendida como a junção de dois elementos conectados por hastes. De um lado, uma estrutura cinzenta, de outro, uma armação colorida: estas duas estruturas compõem a máquina como um todo.
Os cilindros verticais da estrutura cinzenta, em sua operação, movimentam para cima e depois para baixo, um vai e vem, uma haste longa e fina. A haste, ao que parece, sobe e desce de acordo com o ritmo com que esses cilindros são acionados. Em sua lógica interna, os cilindros são potentes e quando ativados impulsionam os momentos iniciais do maquinário todo dando o ponto de partida para que as demais peças possam entrar em operação.
A estrutura colorida, por seu turno, tem mais elementos que a cinzenta. Um cone vermelho de ponta cabeça no topo da armação, uma caixa de madeira abaixo do cone invertido, um tubo grosso conectado a um cilindro que está acoplado a um latão verde, um círculo incompleto azul (parcialmente escondido pelo latão verde.), e a haste que liga tudo isso diretamente à estrutura cinzenta.
Pela composição da pintura, o movimento da estrutura cinzenta acaba por movimentar a haste que está presa no tubo do segundo elemento da máquina, o elemento colorido. Essa movimentação, na haste cinzenta, ganha um paralelismo no tubo do elemento colorido da máquina. A movimentação da estrutura cinza provoca, necessariamente, a movimentação da armação colorida. E, nesse caso, a impressão é a de que o tubo adentra, penetra, o latão verde. Isso depende da dinâmica da estrutura cinzenta e, uma maior ou menor velocidade na movimentação dos cilindros que a compõem, estabelece, por consequência, uma maior ou menor potência do tubo da estrutura colorida a penetrar no latão verde.
A máquina da imagem, após os momentos iniciais em que ainda estamos a pensar como se dá o seu funcionamento, é composta quase que exclusivamente de ferro, metal e aço. Ela é, certamente, fria como nos encontros fugidios dos amantes de hoje. Além disso, se não produz objetos do consumo tradicionais, por certo que provoca prazer. É o prazer como objeto de consumo. Prazer pelo prazer.
A máquina também parece operar de um modo repetitivo. Como se suas funções não fossem tão complexas e sua movimentação se desse por ciclos breves.
Além disso, existe uma rosca na estrutura cinzenta que fixa a haste escura e torna possível a sua ligação à armação colorida. Talvez, a supressão desta rosca tornasse possível a separação da máquina em dois elementos distintos. Duas máquinas separadas. Mas, daí, o constructo todo perderia seu sentido mais particular. De alguma forma, apesar de poderem ser separados, os dois elementos se completam à sua maneira e funcionam, mesmo que de modo improvável, sempre juntos quando é o caso de estarem em pequenos quartos fechados à chave.
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